Especialistas acreditam que, sem partido, ex-senadora pode não ter forças políticas para segurar eleitores. Aliados apostam na candidatura da ex-verde
O discurso pouco convincente de Marina Silva: "Não vou ficar sentada na cadeira cativa de candidata" (Rodrigo Coca/Fotoarena/Folhapress)
Ao anunciar sua saída do Partido Verde (PV), na quinta-feira, a ex-senadora Marina Silva, que amealhou vinte milhões de votos nas eleições presidenciais de 2010, disse não saber se vai ser candidata à Presidência em 2014: “Não vou ficar sentada na cadeira cativa de candidata, não vou engessar a minha vida nisso”. A dedicação agora, segundo ela, será para o movimento suprapartidário que seu grupo vai criar em prol de ideais ambientalistas sem o respaldo de uma legenda.Se dependesse de seus principais aliados, a campanha já estaria nas ruas. Já especialistas ouvidos pelo site de VEJA são menos otimistas quanto ao futuro da ex-candidata à Presidência. Para eles, a última ação de Marina, além de ter deixado para trás uma legenda em crise, pode ter sido um tiro no pé que a deixou com poucas chances de chegar com fôlego às próximas eleições presidenciais.
O discurso da ex-verde não convence. Uma coisa não se discute: apesar de preferir não lançar sua pré-candidatura agora, Marina Silva é naturalmente aspirante a candidata em 2014. A principal dúvida é se o seu capital político se sustentará por mais dois anos apenas com as palestras que ela costuma dar e raras aparições públicas no combate ao texto do Código Florestal que tramita no Congresso. "A carreira política dela está comprometida", decreta o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) João Paulo Peixoto.
Aliados avaliam que a manobra de Marina é suficiente para garantir visibilidade em 2014 – com chances de vitória. "É só andar com ela na rua, como eu faço, que se percebe como é querida. Acho que agora seus votos podem até dobrar", acredita o deputado federal Alfredo Sirkis (RJ), que permanece no partido. "Ela tem sido objeto de mais reportagens depois que saiu do Ministério do Meio Ambiente do que em toda a sua vida política e houve um ganho excepcional de credibilidade", diz o ex-candidato ao Senado Ricardo Young, que se desfiliou do PV.
Tática - A estratégia para continuar sob os holofotes será o apoio explícito a candidatos de diversos partidos nas eleições municipais. "Vamos conseguir ampliar a visibilidade da Marina, mas com a segurança de estarmos do lado de quem apoia nossos ideais", argumenta Maurício Brusadin, também ex-PV. "Não há como prever como será 2014, mas a expectativa é de que o movimento e a Marina cheguem bem fortes lá", acrescenta o ex-presidente do Ibama Basileu Margarido Neto. "Ela é uma liderança óbvia e natural", ressalta o empresário Guilherme Leal.
Sem foco - O cientista político e diretor acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Aldo Fornazieri, considera que o movimento anunciado na quinta-feira pelo grupo de Marina é vago e ainda não mostrou a que veio. "Foi uma grande manifestação de boas intenções, mas carece de conteúdo. Só o Código Florestal não vai segurar o grupo nem a Marina", destaca. "Para ela se manter com alguma chance de se projetar para 2014, tem de fato que criar um projeto que a mantenha como uma liderança importante, com um movimento ativo diante do poder público".
Segundo Peixoto, as chances de a ex-senadora se tornar uma terceira via considerável decresceram. “Eu não apostaria que ela terá o mesmo sucesso que ela teve no PV, pois acho que seu comportamento foi frustrante, como fez no segundo turno das últimas eleições”, defende, referindo-se à saída dela do partido. “É uma conduta infelizmente que tem sido repetida por vários políticos, mas que não contribui em nada para o fortalecimento da política brasileira”.
Daqui para frente, Marina tem o desafio de aparecer nas manchetes dos jornais e na cabeça dos eleitores em situações diferentes da desgastante guerra que enfrentou dentro do PV nos últimos meses e que culminou no abandono da legenda, com uma penca de marineiros a tiracolo.
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